1º PRÊMIO VOZES AGUDAS
PARA MULHERES ARTISTAS
Esta exposição é fruto de um esforço comum de várias mulheres: as integrantes do coletivo feminista Vozes Agudas, do espaço independente Ateliê397, e também as colecionadoras, colaboradoras e parceiras institucionais que têm nos apoiado nesse projeto de plataforma de visibilidade para mulheres artistas. Entre elas, fica nosso especial agradecimento à Galeria Jaqueline Martins, que tornou possível a ação mais significativa desse longo processo de premiação, aqui na cidade de São Paulo, com a cessão de seu espaço e sua equipe.
O 1º Prêmio Vozes Agudas para Mulheres Artistas foi uma chamada aberta lançada no segundo semestre de 2020. Recebemos 830 portfólios, de várias regiões do país, encaminhados por mulheres advindas de realidades e condições distintas e que se valem de diversas linguagens em suas obras e pesquisas. Ao defrontarmo-nos com esse volume e essa variedade tão grande de trabalhos, ficou claro que precisaríamos (e conseguiríamos) ampliar nosso processo de acolhimento. Além das três premiadas, pudemos também ofertar duas menções honrosas e efetuar uma exposição coletiva a partir dos portfólios enviados.
Foram premiadas pelo júri (formado por agentes mulheres atuantes no circuito das artes) as artistas Laryssa Machada, residente na Bahia, Massuelen Cristina, de Minas Gerais, e Mônica Coster, atualmente no Rio de Janeiro. Receberam menção honrosa o coletivo Terroristas del Amor, do Ceará, e a artista travesti Vulcanica Pokaropa, de São Paulo. Sendo a produção dessas artistas atravessada por aspectos de urgência de nosso tempo, elas foram o ponto de partida para o recorte da exposição, pois entendemos que nossa função, como coletivo feminista, é construir pontes entre as artistas e o sistema das artes – principalmente no caso de produções que ainda necessitam de suporte e apoio estrutural.
Em nosso escopo curatorial, optamos por expor os trabalhos de mais 12 artistas, totalizando 17 com as premiadas, independentemente da idade ou do tempo de atuação no campo das artes. Nesta primeira edição da exposição, constam também obras de mulheres artistas do eixo Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil: Alice Yura (MS); Ana Elisa Gonçalves (MG); Bella PPK do Mal (SP); Bruxas de Blergh (MG); Érica Magalhães (residente no RJ); Érica Storer (PR); Laís Matías (SP); Lília Malheiros (SP); Maria Livman (SP); May Agontinme (SP); Mirla Fernandes (SP); e Vanessa Ximenez (RJ). As itinerâncias da mostra contarão com outras artistas residentes, em diferentes recortes regionais, que se juntarão às premiadas e às menções honrosas.
Nos trabalhos selecionados para a mostra, é nítida a presença de questões que permeiam a experiência da feminilidade em suas variantes: a relação ambivalente com o corpo, os processos de subjetivação via os enfrentamentos da autoimagem, a dualidade entre a experiência doméstica/privada e público/urbana, a dimensão do deboche com as masculinidades e os imperativos sociais, as táticas de militância, a tematização da violência social, a busca afetiva pelas ancestralidades (familiares e/ou religiosas) e também as transformações na paisagem.
Esperamos que esta mostra panorâmica seja capaz de dizer por si mesma que no cerne da produção de artistas mulheres existe uma variedade de temas, problemas e estratégias que são tão múltiplas e complexas quanto na produção de artistas homens. E que, para uma geração mais recente, já não há mais o receio de estigmatização no uso de temas e formas pertencentes ao universo feminino e à agenda feminista. Fazemos votos de que essa adesão apenas se amplie, nunca retroceda.